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O apelido de “o John Coltrane do Hip-Hop” pode soar pretensioso, mas DJ Vadim tem uma carreira sólida, com vários projetos diferentes em seu currículo e excelentes álbuns lançados desde o meio dos anos 90. Depois de quase ficar cego devido a um câncer nos olhos, o produtor russo lançou seu novo album no começo do ano com um sentimento de vitória e uma vibração positiva em todos os sons. Em entrevista exclusiva ao Só Pedrada Musical, Vadim conta isso e mais um pouco.

SPM: Como todos sabemos, você é nascido na Russia. Ainda reside por lá?
DJ Vadim: Não. Eu me mudei aos 5 anos, com a minha mãe, para a Inglaterra. Atualmente moro em Londres, mas já morei em diversos lugares, viajei muito. Meus passaportes são cheios de vistos, acho que eu peguei febre de viajar.

SPM: Como a música apareceu na sua vida?
DJ Vadim: Bem, eu acho que a música sempre esteve por perto mas eu só comecei a levar a sério, ou pelo menos como um hobby sério, com uns dezesseis anos. Isso foi nos anos 80. Foi quando eu me apaixonei pelo hip-hop. Hip-Hop foi a primeira paixão e, a partir disso, eu descobri todos os outros tipos de música como funk, jazz, soul, reggae, disco, house, etc.

SPM: Você acumula funções, pois sei que você é Dj, produtor, manager, apresentador de radio, coleciona discos, escreve e pinta. É isso mesmo?
DJ Vadim: Bem, na verdade eu não sou humano. Eu sou de outro planeta e no meu tempo temos 57 horas por dia!!!

SPM: Você começou lançando coisas pelo seu próprio selo (Jazz Fudge) em 95. Isso foi uma alternativa para seu trabalho por não ver futuro nos selos de ponta?
DJ Vadim: Bem, surgiu como uma resposta por não ter um grande selo e nem um suporte pra lançar minha música. Hoje em dia é muito mais fácil começar seu próprio selo. Estou pensando em fazer isso novamente. Não faz muito sentido hoje em dia, na era da música digital, trabalhar com gravadoras. A não ser que eles, pró-ativamente, apoiem você.

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SPM: Tô ligado que voce começou a produzir quando ainda não existia toda a facilidade tecnológica dos dias atuais. O que você usava?
DJ Vadim: Eu usava um Atari ST 1040 e um sampler Akai S950. Muito old school pra hoje em dia. O computador não tinha memoria nenhuma. Era primitivo.

SPM: Como foi o contato com o selo Ninja Tune? Eles descobriram seu trabalho através do “Abstract Hallucinating Gases” e o “Headz Aint Ready”?
DJ Vadim: Isso. Foi através de um cara chamado Strictly Kev, a metade da dupla DJ Food. Eu estava usando o estúdio do The Herbaliser naquela época e ele escutou o que eu estava fazendo, gostou e foi neles com a minha música. Eles gostaram e o resto é história. O mais engraçado é que eu já havia mandado esta mesma música para eles, mas nunca tive retorno.

SPM: Eu conheci seu trabalho em 99, com o disco “USSR: Life From The Other Side”. Nesse album lembro que rolou um problema com a música “Your Revolution”, cantada pela Sharon Jones. Como rolou essa historia?
DJ Vadim: Bem, essa é uma longa história. Mas pra resumir: a música foi banida das rádios americanas, pela autoridade reguladora – FCC. O mais interessante não é o fato que músicas são banidas, mas sim aquela música em questão. Você pode cantar sobre prostitutas chupando paus, arrancar a cabeça de uma piranha, estupro, ódio e tudo mais e ninguém se importa, mas assim que você tenta fazer algo que diz: eu não quero fazer nada disso, não quero uma música que seja depreciativa para as mulheres no hip-hop; você é banido.

DJ Vadim ft. Sarah Jones – Your Revolution
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SPM: O você acha dos rótulos que deram ao longo de sua carreira como “um dos criadores do hip-hop abstrato” ou “o John Coltrane do hip-hop”?
DJ Vadim: O que as pessoas descrevem como sendo hoje vai ser diferente amanhã. Então eu não me importo com isso mais. Eu me importo em criar a melhor música que puder e em continuar a me desafiar criativamente sempre.

SPM: Em 2007, você voltou a cena com “The Soundcatcher”. Apresentando uma sonoridade diferente dos discos anteriores. Diria que foi um disco mais maduro. Você concorda com isso?
DJ Vadim: Eu concordo sim, senhor! Eu gosto muito desse disco e acho que o novo “U Can’t Lurn Imaginashun” é melhor, tipo a evolução, entende.

SPM: Eu soube que 2008 foi um ano bem difícil pra você. Diversos problemas pessoais e um câncer no olho. O que realmente aconteceu?
DJ Vadim: Quando a tragédia bate na sua porta você pode superar ela ou deixar que ela te supere. Eu fui na primeira opção e passei por tudo super positivamente. É por isso que o novo album é bem pra cima, com a positividade em alta. É um reflexo mesmo. Eu não queria ir para o lado negro.

SPM: Você já veio ao Brasil diversas vezes. Já tinha alguma ligação com a musica daqui?
DJ Vadim: Bem, eu fui casado com a Yarah Bravo, que é metade brasileira, metade chilena. O pai dela é de Porto Alegre, no Sul, então nós viajamos um pouco. Mas eu não diria que sou nenhum tipo de expert em Brasil. Basicamente a familia dela me ensinou sobre musica latino-americana – especilamente o som da Bahia. No novo disco fiz uma versão de uma música de um cavalheiro brasileiro bastante conhecido (risos) Eu adoro o Brasil. Espero voltar qualquer hora, comer boa comida, conhecer ótimas pessoas.

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Entrevista feita por Daniel Tamenpi
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